Milagres do cotidiano - dia 15
Cuiabá,
25 de julho de 2023.
Consegui
ser bem sucedida em algumas áreas da vida: profissional, intelectual,
espiritual, material... Mas existe um setor que revela fracassos recorrentes
desde que me entendo por gente: o afetivo.
Não
acerto uma!
E
quando estou envolvida, achando que essa é a chance, essa é a pessoa, agora
acertei... é quando levo uma rasteira fenomenal, a ponto de analisar o início,
o durante e o fim e perceber que, mais
uma vez, fui ingênua e bem infantil, inclusive.
A
infantilidade no emocional afetivo talvez tenha um fundamento: não me lembro de
ter sido prioridade na vida dos meus pais, em nenhum momento. Ao menos, não
tenho memórias de me sentir assim.
De
alguma maneira não menos lógica, isso se transfere para todos campos
relacionais , e me vejo, há anos, sendo a segunda , terceira, e até a última
opção de muita gente que passa pela minha vida.
Triste,
contudo verdadeira constatação: sigo não sendo prioridade na vida de
absolutamente ninguém.
Em
fase adulta, isso revela muito mais minha inabilidade em me relacionar que ter
a “sorte” de vivenciar uma reciprocidade.
Volta
e meia me vejo dando mais que recebo, dedicando pensamentos, energia, horas, contatos,
dinheiro e sentimentos a pessoas que não vão ser capazes de nem ao menos me
colocar em primeiro lugar na sua agenda do dia.
Lamentável,
mas real.
Onde
venho errando? Pensei que escrevendo iria descobrir, mas ainda não. Provavelmente,
com muita terapia e mais tombos, perto da morte, com uns 88 anos, eu tenha esse
insight revelador.
Até
esse dia chegar, esse mórbido texto vem anunciar a primeira vez em que me senti
priorizada esse ano: tenho um vizinho que abriu um lava-jato ao lado da minha
casa, “parede meia” com minha cozinha. Desde então tem sido uma luta lidar com
música alta, barulho de equipamentos, horários de funcionamento que perturbam,
enfim...
E
, contrário a tudo que se vê nesse mundão imediatista e supérfluo, o rapaz dono
do comércio me trata igual a uma princesa, todo preocupado com minha segurança
e comodidade. Responde as minhas mensagens e solicitações imediatamente, sempre
muito atencioso e cavalheiro.
Ele,
o singelo dono do lava-jato ao lado , é a única pessoa este ano , que me fez
sentir priorizada.
O
primeiro que elegeu meu bem estar, minha tranquilidade e minha vontade como
algo relevante. Ele é o milagre do dia. Quiçá do semestre ou do ano, né?!
Alguém
como esse ser humano, com a sua gentileza e seu respeito não faz ideia de como
transforma um cenário de desalento como esse em que me encontro atualmente em
uma luz no fim do túnel.
Um
salve aos desconhecidos da vida que trazem um alento a uma jornada calejada
como a minha.
Comentários
Postar um comentário